Eduardo Carvalho

Outros Inhotins

Vejo no Starte um curador do Inhotim -- provavelmente um dos lugares mais bonitos e interessantes do Brasil hoje -- dizendo que o projeto -- que inclui arte, botânica, educação e relacionamento com a comunidade local - é único no mundo. Em um ou outro sentido, pode até ser, mas seria simpático se ele pelo menos citasse inspirações ou projetos parecidos em outros lugares. Outro dia, folheei na casa de um amigo, por exemplo, o catálogo do Storm King, ao lado de Nova York, e o ambiente que montaram lá -- apesar da paisagem bem diferente e de se limitar a esculturas -- parece também espetacular. Alguém conhece outros?

James Salter e uma pessoa interessante

Alguém deixou, num comentário neste post, um trecho do que James Salter falou na FLIP do ano passado: "I think books are fabulous. But I don’t think you need to read them. You can live a wonderful life without ever opening a book. Sure, of course! Don’t you think so? What it really gives you is a look at the lives of others, and through that, somehow your own life is enriched. If you read them, good, I’m interested in you. If you don’t, you better have a lot of other things". Gostei.

Orson Welles lê Moby Dick

A abertura. Pelo Tyler Cowen; no Open Culture.

Um hábito desnecessário

Uma coisa que tenho feito muito ultimamente: ir ao cinema. Estou quase me convencendo de que a leitura é -- pelo menos em certos momentos da vida -- um hábito desnecessário.

Três caras engraçados no Twitter

• Rogério Ortega/ Mr. Guavaman."O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e de gente tuitando sobre a novela das oito." 
• Iberê. "Por que todo psicografado é cafona? Porque nenhum espírito escreve como gente normal, mas como um senhor da década de 50?"
• Sérgio Faria/ Catarro Verde. "Taxa de fecundidade das mulheres de Ibiúna: 2,78 filhos por mulher. Esse 0,78 é o quê? Um anãozinho?"

Todo mundo em Wonderland

Em todos os lugares hoje encontro alguma coisa sobre Alice no país das maravilhas, por causa desse Tim Burton novo. Coloquei até a minha edição do livro aqui na cabeceira, para reler. Minha localização no Twitter, lá desde 2007, reparei agora, acho que nunca esteve tão a propósito. Me sinto assim menos sozinho.

A mulher-enxaqueca

Marcelo Rubens Paiva -- hoje, na sua crônica no Estadão -- descreveu muito precisamente o estereótipo da mulher-enxaqueca, pela qual um escritor se apaixona fácil e que um homem mais ponderado deve evitar: "uma atriz de teatro com voz marcante, um corpo perfeito, boêmia, culta, poeta nas horas vagas, que canta, dança, sapateia, faz mágica, joga pôquer, tranca e gamão, e tem um monótono figurino no armário, apenas minissáias e botas". Que medo.

Sobre a mulher profissional

Susan Pinker -- irmã do cara -- deu na semana passada uma entrevista interessante para a Folha: "O que acontece de bom quando as mulheres aceitam que existem diferenças biológicas naturais é que elas se sentem muito menos isoladas com seus sentimentos. Se ignoramos as diferenças, estamos forçando mulheres a assumir cargos e trabalhos nos quais boa parte delas não serão felizes, talvez como executivas ou engenheiras". E completa comentando o caso do Larry Summers: "Ele foi atacado simplesmente por comentar as evidências que a maioria das pessoas que trabalham com biologia e antropologia evolutiva vêm dizendo há anos". Não sei se este debate já chegou aqui.

Lúcia Veríssimo, Paris Hilton e guerra de gerações

Assisti um pedaço da entrevista da Marilia Gabriela com a Lúcia Veríssimo, que eu não sabia quem era e que não parava de resmungar: "porque a nossa geração fez uma revolução", "porque os jovens hoje estão acomodados nas nossas conquistas", "porque o mundo está muito superficial", "porque a sociedade hoje é muito mais hipócrita", "porque a contracultura", etc, etc. E uma hora solta esta: "porque quando eu usei pela primeira vez mini-saia", etc. Alguém precisa avisar essas senhoras que a Paris Hilton fez um filme pornô. É por aí?

Entrevista para o Entrelinhas sobre o Kindle

A entrevista completa pro Entrelihas sobre o Kindle, para quem gosta do assunto.

Minha vida não tem aventura

 

Nunca discordei do Calvin. (Pela Laura, no Google Reader.)

Sugestão de um intruso

“Certas coisas você deve ser sempre incapaz de agüentar. Certas coisas você nunca deve parar de se negar a agüentar. Injustiça e afronta e desonra e vergonha. Não importa se você é muito jovem ou se está muito velho. Nem por prestígio nem por dinheiro: nem por seu retrato no jornal nem pela sua conta no banco. Simplesmente se negue a agüenta-las.” 

É o que está escrito na contracapa de uma edição da Siciliano de O intruso, de Faulkner, de 1995, em que esbarrei agora por acaso. Uma boa sugestão.

Gente feia falando besteira

O comentário mais sensato que li até agora sobre o BBB: "muita vergonha alheia de quem gosta e assiste BBB, que pobreza de espirito, q coisa estranha gostar de ver um monte de gente feia falando besteira, não entendo quem gosta desse vazio, fake, ignorante e pior e quem acredita que eh tudo verdade, acordem pessoas, qualquer coisa e mais interessante que isso!" Pela Fernanda, no Facebook.

Uma idéia ortográfica

A única coisa que aprendi até agora com relação ao novo acordo ortográfico é que a palavra idéia não tem mais acento. Não entendi -- e não tentei tentei entender -- esse negócio do hífen nem nada mais. Agora, não sei nunca se, quando escrevo idéia, uso a grafia correta ou a antiga, que acompanharia de forma padronizada os defeitos do resto do meu texto. Na dúvida, porém, continuo recorrendo, como um ignorante que precisa esconder certa insegurança, à tradição.

Na praia

 

Da Julia Breckenreid, n'o silêncio dos livros; pela Mariana, no Twitter.

Sobre sapatos e praticidade

Na semana passada, comprei um sapato idêntico ao que usava e deixei o antigo, que já não estava numa situação muito apresentável, encostado no balcão da sapataria, de cortesia. Em alguns aspectos, temos que ser práticos.

Cinema que não é um paraíso

Tentei assistir no carnaval, na praia, Cinema Paradiso, de que falam tanto. Dormi. Foi de certo modo um alívio, portanto, ler o Jabor hoje: "Não há 'cinema paraíso' (por isso, aquele filme italiano é tão ruim)". Mas me parece forçado seu "amei Avatar", que está -- no que se refere à capacidade de um filme provocar tédio -- no mesmo patamar de Cinema. É curiosa, aliás, essa necessidade do pessoal mais velho sair elogiando "a tecnologia a serviço da poesia". Que poesia?

Dentro da época

Está muito bem escrita e engraçada a apresentação da Época Negócios deste mês, assinada por dois editores convidados: Pedro Moreira Salles e Horácio Lafer Piva. Suponho até que jornalistas não tenham interferido no texto, apesar de, pelos exemplares que tenho acompanhado -- acompanhava mais no começo, é verdade --, ela ser a mais interessante e bem redigida do ramo. Um ramo -- o de revistas de negócios brasileiras --, aliás, cá entre nós, meio careta, copycat. (A principal inspiração da Época Negócios, por sinal, se foi faz tempo.)

Os assuntos também estão bem escolhidos: leitores digitais com entrevistados ameaçados: Roberto Irineu Marinho, Otávio Frias Filho, Ruy Mesquita; uma reportagem sobre a da Igreja Católica do ponto de vista corporativo; outra sobre o mercado de arte contemporânea ("cansado de perder dinheiro em com arte contemporânea, um de nós", etc.); etc. No final do editorial, uma sugestão: "desde já, oferecemos à Editora Globo dois esforçados editores pelo preço de um". Globo, aproveite.

Leo Kuba, Miguel Cavalcanti e homens na arena

Acompanhei a gravação -- meio que por acaso -- desta versão 000, como eles dizem, do videocast do Leo e do Miguel. Os caras são extremamente bem informados e têm opiniões muito boas sobre o que está acontecendo na internet -- e dão dicas interessantes de blogs, sites, etc. Espero que incluam mais um zero no título de uma próxima edição, para que consigam chegar pelo menos no programa 9999.

210 e um lugar que faltava

Faltava um lugar bacana como esse 210 em São Paulo. Que bom que -- muito convenientemente -- desta vez o Benny preferiu continuar em Higienópolis. De barriga cheia, agradecemos.

O segredo do cinema argentino

Daniel Piza sem querer explicou bem detalhadamente, na Sinopse de hoje, este meu post da semana passada: por que o cinema brasileiro não consegue fazer filmes como O segredo de seus olhos. E lamenta: “Personagens ambivalentes, contextualização histórica, idéias sem ideologia -- eis os itens principais de que sinto falta na grande maioria dos filmes brasileiros”. Somos dois.

"Ilha do medo", escritores e mulheres

Foi praticamente uma mesa da Flip -- considerando a platéia -- a seção de Ilha do Medo no Iguatemi ontem à noite: de um lado, Bernardo Carvalho, sempre presente em Parati, e, de outro, Contargo Calligaris, que citou muito Conrad no evento em 2008. Não fosse, claro, a presença enorme e quase anti-literária de Roberto Justus, sentado ao lado -- por acaso, imagino -- de Contardo. Mas convenhamos: pelo que reparei, talvez eu também abrisse mão de qualquer relação com escritores brasileiros contemporâneos (já não tenho quase nenhuma, é verdade) por horas com as pernas da Ticiane Pinheiro. Só sugeriria que ela trocasse esse nome antes, naturalmente.

Mas acho que eu também abriria mão de anos com as pernas da Ticiane (?) se precisasse conversar cinco minutos com ela. Ilha do medo é um dos filmes mais impressionantes que assisti recentemente. Até entendo que algumas pessoas possam ter restrições a ele e -- num sentido mais abrangente -- ao estilo Scorcese: a palavra kafkaniano e o discurso do policial no jipe sobre violência foram desnecessários, a mulher do detetive poderia ser mais bonita e -- a minha principal objeção antes de ler mais sobre o filme -- o ambiente e várias cenas são muito artificiais. Mas não aguentaria ouvir, depois da seção, que o filme é "chato, louco demais! Longo...". Imagino que nem o Roberto Justus aguente, e, convenhamos, é pra isso que existe Twitter.

Aliás, enquete: você prefere jantar com a Ticiane (?!) Pinheiro ou com a Ivana Arruda Leite?

O segredo do cinema

O segredo de seus olhos é o tipo de filme latino-americano que -- interprete como quiser -- não se faz no Brasil.

Como viver a vida

Esbarrei com duas ou três cenas de Viver a vida esta semana, enquanto corria na academia. Desde Vamp não me lembro de ter assistido um capítulo de novela inteiro. Mas não resisti à Aline Moraes na piscina de maiô, às pernas de uma loira que estava passando creme num banheiro com oito espelhos e à Bárbara Paz. Quase aguentei chegar até o intervalo. 

Mas os diálogos eram de uma aflição convulsiva: "tudo vai dar certo", "você está sendo radical", "é preciso ser paciente", "você é o sol e ele é a lua", "sou um cara mais expansivo então acabo conseguindo o que quero", etc. São as expressões mais desbotadas aplicadas às idéias mais chapadas, chatas. Devo ter mudado de canal pra algum programa com fashion ou models no nome. Um decote nem sempre precisa falar.