Só agora acabei de ler a reportagem da The Economist sobre o Brasil -- um pouco atrasado, mas tudo bem. É um clássico. É legal ver o desapego ideológico deles: elogiando o espírito prático de Lula, por exemplo, mas destacando a sua sorte (em pegar uma situação mundial favorável ao país e em suceder Fernando Henrique) e a sua esquizofrenia político-econômica (elogiando o MST e, ao mesmo tempo, financiando com o BNDES a estruturação do maior produtor de carne do mundo). É sempre um alívio rever esses assuntos de uma forma mais organizada, clara -- e até por isso muitas vezes mais crítica.
O resumo das nossas crises mais recentes é didático. E gostei muito também deste trecho do segundo parágrafo: "the country is enjoying probably its best moment since a group of Portuguese sailors (looking for India) washed up on its shores in 1500. Brazil has been democratic before, it has had economic growth before and it has had low inflation before. But it has never before sustained all three at the same time." A reportagem é no geral elogiosa, mas não ingênua: "Judged against its own past, Brazil is doing astonishingle well. Judged agaisnt its potential, it still fares poorly". Este é o ponto.
Algumas observações mais, digamos, sociológicas são bem precisas e até engraçadas, como quando o Brasil é separado em duas classes: uma delas "runs on sushi and is usually suntanned". Também gostei de ver que o repórter visitou -- além de lugares mais óbvios, como a fábrica da Embraer -- destinos mais remotos: como Canudos, no sertão da Bahia, onde "todo mundo tem celular", e um shopping recém inaugurado em Diadema, "complete with neoclassical flourishes and the odd piece of what looks like marble".
Que, completa o texto, "'é um bom lugar para comer um pão de queijo e refletir sobre o que era este lugar há apenas uma década atrás". Foi exatamente o que fiz outro dia, aliás, num sábado à tarde num Rei do Mate no Shopping Bonsucesso. Nada ilustra melhor a realidade do que a própria realidade, afinal.