Não pauto a minha leitura pela Flip. Não li praticamente nada dos
convidados deste ano. Comprei algumas coisas de escritores que
descobri aqui, em anos anteriores, mas nada evoluiu muito. Então -- em
vez de falar do que li --, preferi escrever sobre mais ou menos o que
sei de três deles. É pouco também.
Sei que Lobo Antunes é difícil pra caramba. Como escritor e -- parece
-- como pessoa. Não tenho paciência para parágrafos longos e
pontuação criativa. E acho meio infantil essa rivalidade que ele tem
com Saramago. Sei que ele é médico -- li seu perfil na New Yorker --
e tenho um dos seus livros autografados, que uma amiga me trouxe de
Portugal.
Mas gosto do jeito que Richard Dawkins escreve, como se escrevesse pra
crianças. Fica mais fácil, pra mim. Uma amiga me mandou de "The
Selfish Gene" com trechos grifados, porque explicava, segundo ela, uma
teoria minha sobre estrutura familiar, que esbocei num jantar. Eu
disse que achava legal a idéia de ter uns dez filhos.
Mas juro que comprei "Leite derramado", do Chico Buarque, com a melhor
das intenções. Gosto dele, das músicas, até da forma como ele fala.
Relevo tranqüilamente a sua amizade com o MST e com as idéias
políticas mais atrasadas. Mas não entendo como críticos tão bons,
tão sérios, ficam nessa babação em cima de um livro que tem um
problema básico, fundamental, que é o do estilo. Seu texto é duro,
forçado. Não tem aquela naturalidade da sua música, ou, se quiser
mais, nem da sua personalidade.