Não é uma descrição ou resumo do que são ou foram esses lugares. É uma mistura disso, talvez, em uma linha, com uma ou outra lembrança e/ou impressão que ficou deles. A lista não está em ordem cronológica, mas quase. Fiquei impressionado com o tamanho dela, aliás. Mas preferi não interpretar isso. Preferi também excluir um julgamento mais direto, social ou estético, do que encontrei por aí. Tentei falar de todos os lugares como se fossem um só.
Falta muita coisa na lista, claro. Algumas estão dentro de uma categoria, como o Di Quinta e o Banda Glória estão dentro do Traço de União. Outras -- como D-Edge e Bar Secreto -- me pegaram numa fase mais, digamos, introspectiva. Tem gente que vai querer incluir Up and Down, Kremlin, etc., mas não peguei essa época -- só me lembro de passar na frente desses lugares indo pro clube ou pro dentista. Da maioria dos lugares, por motivos diferentes, preferi esquecer. De outros eu até queria me lembrar melhor...
Depois me digam o que acham que faltou. Ou se têm lembranças parecidas de lugares assim. De repente incluo alguma coisa que ficou de fora e publico uma segunda edição. Aqui vai a primeira, talvez única:
- Boateca do Paulistano. Vou com o meu primo, que hoje mora em Rondônia. O nome -- Boateca -- não comprometia: todo mundo da escola estava lá. Um ou outro casal, hoje inimagináveis juntos, estavam se formando naquela época.
- Resumo da Ópera. No banheiro do Shopping Eldorado, se preparando para entrar, uns caras amarrando um lenço na cabeça. Lá dentro, um anão no elevador, e um monte de gente que não percebia que, olhando bem, ainda era mais baixa do que ele.
- The Gallery. Numa festa de 15 anos, todos nós irreconhecíveis, de black-tie. Era onde, segundo a Playboy, as coisas aconteciam -- decotes e pernas se abriam para aquele clique que eu imaginava inesperado --, mas curiosamente, para mim, não aconteceu nada.
- Odeon. Para quem estava se formando na oitava série, era quase um escândalo: numa casa na Avenida Paulista, fotos artísticas de uma apresentadora-atriz-lésbica pelada, ao lado da mesa de sinuca. Eu estava procurando a T., mas foi tarde demais quando achei. Me lembro de atravesar a Avenida Paulista à noite, um pouco sem motivo.
- Cabral. Na fila, com amigas do Alumni do meu amigo: “Um cara desse prédio às vezes jogava uma melancia pela janela”. O aquário que dividia os banheiros era um sucesso. No bar, ao lado da pista de 5m², a gente começava a pedir vodka com energético. Volto de táxi, e, quando reparo no taxista, me lembro que foi o pior motorista que tivemos em casa, mas não comento nada.
- Base. Quarta-feira. Uma piscina lá embaixo. Um amigo dorme num sofá. Uma conversa com uma amiga de amigos: “Ah, seu pai foi candidato a presidente, né?” É que a campanha era engraçada.
- Floresta. Chegamos, numa quinta-feira, com um Gol 1000, aquele quadrado, com o logo da empresa do meu amigo adesivado na porta. Um dos três, com o RG mais mal falsificado, fica pra fora conversando com as amigas da irmã mais nova. Nós dois, que entramos, voltamos mais tarde ouvindo Jazz Masters. Éramos adultos, mas ninguém sabia.
- Cabral de Campinas. Tomo umas quatro tequilas e, depois disso, nunca mais na vida quero tomar uma tequila. De passagem, aquela menina que queria reencontrar há anos, e não encontrei nunca mais.
- O Leopolldo. Paro o carro numa pracinha destruída, no Morumbi. Lá dentro, algumas estátuas, uma biblioteca. Otávio Mesquita sai da biblioteca com uma cara de sério. Na saída, todos os carros da pracinha multados, menos o meu.
- Anzu. Uma conversa engraçada com um cara que eu não via há anos. Depois, uma conversa muito boa com uma amiga que não via há muito mais tempo ainda. Amiga é modo de dizer, na verdade, ou pelo menos aquele dia eu queria que fosse.
- Cabral Tatuapé. Sozinho, numa segunda-feira, sigo as orientações pelo celular dos amigos que já estão lá. No camarote, Viola e a seleção brasileira inteira. Liminha -- aquele animador de auditório do Gugu -- passeia sorridente com duas ou três loiras embaixo do braço.
- Moinho. Primeiro era a abertura de um leilão de cavalos; algumas palhas no chão. Outro dia, foi o show do Stockhausen, e uma hora não sabia se era a música ou o trem que estava passando ali atrás.
- Manga Rosa. A ex-namorada de um amigo dançando, no meio daquele monte de gente, aparentemente animada. Melhor não falar nada.
- Traço de União. Era uma feijoada aos sábados. Virou um inferno, de tão cheio, quase todo dia. Todo mundo ia -- há quanto tempo? --, mas não sei se ainda vai alguém, se ainda existe.
- Funhouse. Um cara com tatuagem na cabeça servindo cerveja. Uma pista com meia dúzia de pessoas. No segundo andar, todo mundo espalhado pelos sofás. Entre eles, o irmão de uma amiga carioca e aquela amiga do cursinho.
- Sarajevo. Umas trinta pessoas lá dentro. No andar de cima, só um casal de lésbicas, que me olha feio. Lá fora, um bar e um jardim, como um último abrigo no meio da guerra na Rua Augusta.
- Zeibar’s. Um cara sem meia, de sapato preto, terno vinho, manga dobrada, camisa preta, com uma corrente de ouro no pescoço e cotovelo no balcão. Conversando provavelmente com a ex-mulher de um dono de postos de gasolina. Ali dentro, no fundo, cantando muito concentrado, um cover perfeito do Roberto Carlos.
- Grazie a Dio. Samba, suor, cerveja. E uns olhos verdes.
- Marcenaria. Muita gente dançando no palco. Não sei exatamente o motivo, mas muitos dentistas.
- Lov.e. Lotado. Com uma amiga, vou entrando na área VIP: “Ela é aquela DJ russa. Licença, obrigado”.
- Café de La Musique. O Piauí na porta, pra variar. Ruy Ohtake jantando bem acompanhado, um dia. Seis meses depois, uns caras de Campo Grande dançando em cima da mesa. Dou carona para o irmão de um amigo, que vai tomando uma caipirinha debruçado pra fora do teto-solar.
- Vegas. Vamos numas 12 pessoas, mas todo mundo vai embora. Nós dois vamos para o Paris 6 e ouvimos a conversa de um casal recém-separado -- ou recém-casado? -- discutindo a educação sentimental do filho, ou a falta dela.
- Pacha. Mais de dez pessoas da faculdade que não vejo faz tempo. Lá dentro, me perco naqueles dezenove ambientes. Uma conversa divertida com alguém, mas não me lembro quem.
- Disco. Três mexicanos chegam de táxi, inocentemente: “Aqui é a Disco?”. Hostess: “Não”. Lá dentro, o irmão mais novo de um amigo, com umas quatro amigas do clube envolta.
- Metrópolis. O baterista, um pouco magro, usa uma camiseta larga do Metallica, e um cabelo comprido que era mais comum há mais ou menos 20 anos. Algumas assistentes do administrativo, uns estagiários de controladoria, etc. Tem gente que prefere chamar de Monstrópolis.
- Royal. Tomamos uma cerveja no bar ao lado do estacionamento. Meu amigo conhece o garçom não sei da onde. Lá dentro, um cara de mais de quarenta anos me avisa que essa loira, de uns vinte, é a sua namorada. “Obrigado, mas nem reparei que ela estava aí”.
- Passatempo. Fecha às 5h, chegamos às 4:40h. Um cover do Fábio Junior no palco. Na pista, o dono de um restaurante na Vila Nova Conceição: "Vocês é que me proporcionam tudo isso". Numa mesa, Chiquinho Scarpa de smoking, e uma porção de lula à dore.
- Studio SP. Em Pinheiros, quando tinha um lugar aberto lá em cima. Um festival de bandas finlandesas, se não me engano. Muita gente de xadrez.
- Mynt. Um francês de Miami um pouco afetado na porta. Lá dentro, uma ou outra modelo. Era atrás do Mercearia, e você só estacionava o carro uma vez.
- Neu. Uma casa em reforma, uma música divertida, uma boa companhia.
- Pink Elephant. Onde os sócios -- uns 20, 30? --, espremidos entre correntes e seguranças, enchiam o saco da hostess para entrar na re-inauguração. “Calma, Fabinho. Primeiro a Manu, ela paga o meu salário.”
- Liege. O convite mais engraçado de São Paulo. É o lugar em que os melhores modos são os mesmos que a sua mãe ensinou, e, incrível, todo mundo parece que respeita. (Sempre tem um ou outro grupo de meninas que vai lá como quem não quer nada, mas eu não devia contar isso aqui.)