Um leitor de Portugal – incrível como os elogios do Francisco Viegas trouxeram leitores de lá – me perguntou se, nas últimas semanas, longe deste blog, andei seguindo o conselho de Fernando Pessoa:
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
E talvez seja mais ou menos isso mesmo: eu preciso de um tempo. Não exatamente de literatura, mas deste ambiente virtual, de blogs, que, se é divertido, também ocupa tempo e cansa. Claro que as coisas não necessariamente se substituem, e muita gente consegue viver extraordinariamente e publicar todo dia. Mas no meu caso, por vários motivos, essa combinação estava mais difícil nas últimas semanas.
Estou abrindo mão, então, do compromisso de publicar todo dia, religiosamente. Essa regularidade exagerada, aliás, nem acho o que é o que os leitores querem, já que, nestas duas últimas semanas, a visitação do blog continuou alta, apesar da falta de posts. Muitos leitores não conseguem acompanhar aquela sequência de posts diária, quase eufórica. Nem deveriam, aliás: sinceramente, tem muita coisa aí, longe da internet, que merece muito mais atenção.
Eu estou muito animado programando viagens para os próximos meses: para algumas capitais do norte do Brasil que ainda não conheço, ainda este ano; para alguma praia perdida no Nordeste noreveillon; para esquiar no Colorado, em janeiro, e seguir em conexão direta para a Tailândia; para o México e para Dubai, perto do carnaval; etc. Tenho também assistido filmes loucamente: tudo do Truffaut, alguns italianos, muitos lançamentos. Tenho aproveitado esta folga do blog também para ler mais. Estou encantado com Pragmatism, do William James, e sua defesa da "reasonableness of ordinary experience". Tenho lido tudo do Álvaro Lins , que é um deslumbramento estilístico, e cheio de dicas de autores hoje esquecidos. Proust e Machado, se fosse escolher aqueles três autores para uma ilha deserta, acho estaria satisfeito só com esses dois.
Enfim: este post não é a despedida deste blog nem um manifesto contra a experiência de ter um blog. Continuo publicando aqui, agora com outra regularidade e, talvez, vamos descobrir depois, com outro estilo e sobre outros assuntos.
Enquanto isso, fiquem com um pedaço da apresentação de Abroad, do Paul Fussell, que tem me inspirado muito nos últimos dias:
"This book is about travel writing, but it is also about travel, so I have dealt not just with books but with ships and trains, passport photographs and national borders and small French seaport towns, hotels and cafés and beach resorts, architecture ancient and modern, food and drink, nude sunbathing, and sex, both procreative and recreational. I have dealt with icy trenches and sunny patios, West African and Brazilian chiggers, touts of all nations, suntan oil, oranges and palm trees, the symbolic status of weather, the psychology of the sense of place, the spatial discolations characterizing "modern" writing, and the once indispensable mecums of Baedeker and Tauchnits. (...) to suggest what it felt like to be young and clever and literate in the final age of travel."
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